RASGAR SILÊNCIOS, porquê?
Sou filha de pais surdos, CODA (Children Of Deaf Adults) e tenho como língua materna a Língua Gestual Portuguesa. Nesta circunstância familiar e na faixa etária de criança cresci no friso cronológico dos anos 60-70, em que a Língua Gestual era vista como ‘envergonhada’, pouco assumida e institucionalmente não aceite. À época, era os ouvidos dos surdos, para que a Pessoa Surda, na sua Língua , a Língua Gestual, pudesse expor o ‘assunto em causa’ que o levara àquela situação. A infância galopou sobre mim e por isso não vivi, nos seus parâmetros ditos normais, esta etapa de vida. Aos 11 anos sabia mais de tribunais, advogados e juízes do que de brincar ao esconde-esconde. Ainda hoje, frases como ‘Vais com o teu irmão, para tomar conta de ti’ arrepiam-me. Em 2018, por necessidade de arrumar o passado, denunciar vilões, fazer sentir que a História existe e contribuir para que se evitem os mesmos erros do passado, assumi a escrita do livro ‘Rasgar Silêncios’.
Amélia Amil