«Na presente colectânea poética de Odete Costa Semedo, que reúne mais de centena e meia de poemas, a escrita exibe o elogio de uma heroica resistência individual (cultural, física, psicológica), de que o silêncio parece ser a maior inibição (e, neste contexto, o sujeito parece erigir-se a representação metonímica do género feminino), mas também resistência colectiva: o chão, a terra, a pátria, a África - "Vós que vistes a África que há em mim" (p. 12), diz a poetisa no seu poema libatório, para, mais adiante, aprofundar, alargando, essa reivindicação identitária (de que, note-se, a linguística é uma vertente muito presente nesta colectânea) à comunidade afro-diaspórica: "Eu que vim de todas as partes da África/eu que parti mar fora/ eu que parti e não voltei/ eu que parti para fugir da fome" (p. 172). E as quatro partes (muito desiguais em termos de número de poemas) vão destecendo uma articulação entre a expressividade lírica e a enunciação épica. E esta construção estética destes poemas é reforçada pela estruturação formal, e a sua temática, do longo poema "Libação", mas também no macro-poema "Liberdade absoluta", em sete segmentos, que, curiosamente, não aparece na parte Liberdade absoluta, mas em que língua escrever?, em que, exprimindo reflexões sobre assuntos relacionados a micro-representações do quotidiano, celebra o plurilinguismo como o ideal da condição humana.
Este é um livro sereno, quase inconfidente, em que Odete Costa Semedo, exibindo as marcas de uma viagem escritural, (...) buscando sempre interpretar o chão da Guiné e seus manes e irãs através das suas próprias experiências…»
Inocência Mata (FLUL/CEComp)
Março de 2023
In contracapa (In)Confidências