«Oferece-nos José Paulo Santos um conjunto de oitenta poemas a que deu o título de O Invisível do Voo.
Publicar é sempre um acto que, por si só, merece um especial cumprimento. Porque quem escreve se expõe, se desnuda, sujeitando-se à natural e desejável apreciação crítica dos leitores, de tal modo que a obra já não é do artífice (apenas), mas sobretudo daqueles a quem ela se destina. É o destino a cumprir-se, pois mesmo quem escreve "para a gaveta" acaba por alimentar, lá no fundo, a expectativa de que alguém leia aquelas palavras, ainda que só quando da existência humana se haja libertado.
(…)
Termino, de modo a cumprir o objectivo simples a que me propus: convidar cada um dos leitores a embarcar nesta aventura que é sempre acompanhar o sujeito poético nas venturas e desventuras do tempo (real e psicológico) que nos tocou viver. E esta é uma aventura da qual saímos sempre enriquecidos e diferentes, ao menos por nos confrontarmos com um diverso olhar. Como defende Heidegger, substância e forma são importantes nas mesmas dimensões em qualquer obra de arte. O filósofo aspirava à perfeição, esquecendo-se que só muito raramente o toque de Midas transforma um de nós num instrumento que perdura séculos, ou melhor, que é atemporal e intemporal.
É no invisível, no que está por detrás do espelho, e no respectivo voo, altaneiro, qual falcão, que José Paulo Santos nos convida a entrar. Fi-lo descomprometido e aspergido por uma espécie de tábua rasa aristotélica. É esse o convite que reforço!»
Praia, agosto de 2021.
Jorge Carlos de Almeida Fonseca
In Prefácio O Invisível do Voo