«A notícia da tomada de um navio, em Janeiro de 1961 desperta nos homens daquela aldeia remota um sentimento de curiosidade e de algum temor, que os faz ir até à taberna, noite após noite, escutar com desmedida atenção as noticias da Emissora Nacional.
Sebastião Profeta faz apenas alguns comentários enigmáticos que despertam nos vizinhos maior desconfiança e algum medo. O uso certeiro das palavras, apesar de algumas fugirem à compreensão dessa gente simples, fá-los acreditar que o barbeiro terá certos poderes ocultos, mas ele, cioso dos ensinamentos herdados do avô, nem sempre lhes abre o jogo.
Zé Gato, o bufo, é quem mais se exaspera por quase nunca entender onde Sebastião Profeta quer chegar com aquelas palavras estranhas, mas tem a certeza de se tratar de ditos contra o Regime. Numa terra onde nada de extraordinário acontece, alguns factos vão marcar para sempre a vida daquela pequena comunidade rural. Ainda hoje prevalecem na memória dos mais velhos essas recordações: o grupo de jovens turistas alemães, sobretudo das raparigas tão bonitas e tão pouco vestidas; a chegada do casal de lisboetas acompanhados da governanta estrangeira; a família brasileira que ali veio passar uma temporada, mas sobretudo as cantorias no terraço da casa grande e até aquelas vozes tão alegres dos brasileiros a acompanharem à missa.
Luizinho Profeta, filho de Sebastião, apaixona-se pela filha da brasileira desquitada, e, terminada a missão na guerra do Ultramar, ruma ao Brasil onde com perseverança acaba por construir um pequeno império.
Tinham passado trinta anos até voltar à sua terra e, ao ver os pais, dois velhos a caminharem inexoravelmente para o fim da vida, fê-lo tomar uma decisão. Ao longo da narrativa, os personagens que a habitam vão revelando segredos que durante muitos anos tinham guardado a sete chaves. Afinal, talvez fosse verdade Sebastião Profeta ter certos poderes ocultos…»
In contracapa O Segredo