«Eu não vou contar-vos aqui uma história, como sói contar-se geralmente. Vou contar-vos um Canto; um Canto à minha Beatriz, um deus mais forte do que eu, que é como quem diz ao meu Cisne de Luz.
Diziam, de mim, Dante, as mulheres: Olha esse que vai ao inferno e volta quando lhe apetece.
Bocaccio, com as senhoras, tergiversou prendendo o seu demónio no inferno.
Rimbaud, também, com a sua época no inferno, mostrara como esteve no inferno; e bem sei eu que de lá nunca voltará, porque o seu inferno foi aqui mesmo na terra.
Quevedo há de dizer que escutara o inferno com muita atenção e que lhe parecera notável coisa - porquanto era a cupidez dos juízes, o ódio dos poderosos, as línguas dos maldizentes, as más intenções... etc..
Orfeu, segundo a mitologia, desceu ao inferno, com a sua flauta, para recuperar a sua amada Eurídice.
Tudo isso sobre o inferno digo eu agora porque eu também tenho algo a contar sobre esse lugar, ou essa simples essência que não sabemos bem o que é, nem como é, nem onde fica.
Mas permitam-me contar este meu Canto em epístola serventesio, pelo que de mais belo pode preencher o peito humano. Creiam-me, não vou contar este Canto como se costuma contar um conto. Nem sei se terá algum sentido ou alguma razão de ser; ou se não será, apenas, um amontoado confuso e banal, tal o caos de Blake…»
Daniel Euricles Spencer Rodrigues Spínola nasceu em Ribeira da Barca, concelho e freguesia de Santa Catarina, da ilha de Santiago de Cabo verde.
Jornalista e professor, de profissão, é, no mundo da arte e cultura, ensaísta e crítico literário e artístico, escritor e pintor. Licenciado em Língua e Cultura Portuguesa, pela Faculdade
de Letras da Universidade de Lisboa, lecionou em vários liceus da Cidade da Praia; na Faculdade de Letras da Universidade de Havana e aos voluntários do Corpo da Paz na Guiné Bissau.
Foi assessor do Ministro da Cultura (2008 a 2010) para as áreas da comunicação e da cultura.
É Presidente do Conselho de Administração da Sociedade Cabo-verdiana de Autores – SOCA; membro fundador da Associação de Escritores (e da Direção em cinco mandatos).
Foi um dos cinco integrantes do núcleo fundador da Academia Cabo-verdiana de Letras, sendo, neste momento, Vice- Presidente e Administrador Executivo da Academia.
É Editor e Editor/Diretor da ACL-Editora e da revista Novas Letras, respetivamente, da Academia Cabo-verdiana de Letras.
Foi Editor e Diretor de várias revistas e cadernos culturais de jornais, com destaque para a revista Pré-Textos, da Associação dos Escritores Cabo-verdianos e da Revista SOCA Magazine, a qual ainda dirige e edita.
Foi Diretor da Revista generalista Acácia Magazine e do Jornal Online A Voz.
Tendo enveredado pelo mundo da investigação e divulgação cultural, realizou, dirigiu e apresentou vários programas radiofónicos e televisivos, nomeadamente: Contacto e Action, programas radiofónicos para jovens – 1982/89; Gentes, Ideias & Cultura, programa radiofónico artístico-cultural – 1986, do Movimento Pró-Cultura; Alô Cabo Verde, programa radiofónico e televisivo para emigrantes – 1991/92; Artes & Letras – 1992; Cultura Versus Cultura – 1994/95; Clari (e) vidências e Nos Identidadi – 1997/99; Finason di Konbersu, 2006; Arte & Cultura – 2007, Kabu Verdi Magazine, Letras Vivas e Inéditos, todos programas televisivos de investigação, informação e divulgação cultural e artística, para além do programa televisivo sociocultural intitulado Testemunhos do Tempo.
Publicou, de entre outros, os seguintes livros de referência:
Lágrimas de Bronze, ficção, E.A, 1991 (3ª edição – 2006); Na Kantar di Sol, puema, E.A, 1991; Vítreas Labaredas, poemas, ICL – 1994; Infinito Delírio, poemas, IBNL, 2002; Evocações,
ensaios, IBNL, 2004; Na Nha Sol Xintadu, puema, E.A, 2004; Lagoa Gémia, kontu, Spleen-edições, e Ámen Na Nha Xintidu, puema, E.A, 2006; Os Avatares das Ilhas, ficção, Spleen-edições, 2008; Cabo Verde e As Artes Plásticas, Vol. I e II, 2009 e 2016, Spleen-edições; Os Delírios da Cidade, contos, Spleen Edições, 2014; Pasárgadas de Sol, poemas, 2015, Spleen-Edições; Cabo Verde e As Artes Plásticas – Percurso & Perspetiva, Vol. I e II, IBNL e DSP – 2009/14; Photomaton, Biografia, 2015 e Vagens & Sonatas de Sol, Poemas e Pinturas, 2015,
Spleen-Edições.
Tem mais de 100 trabalhos sobre Literatura, Arte e Cultura publicados em várias revistas, jornais e antologias. Integrou as seguintes Antologias: Mirabílis – De Veias ao Sol (1998),organizada por José Luís Hopffer C. Almada; Insularidade e Literatura (1998), coordenado por Manuel Veiga; Palavra de Poeta (1999) organizada por Denira Rozário; Antologia
da Ficção – Cabo-verdiana, Vol. III – Pós-Claridosos (2002), organizada por T.V. da Silva; Cabo Verde 30 Anos de Cultura (2005), organizada por Filinto Elísio Correia e Silva; Petite Anthologie du Cap Vert (2006) organizada por Dominique Stoenesco; Destino de Bai (2008) organizada por Francisco Fontes; Portuguesa Contra Antologia (2009) por Wilmar Silva; Transition (2010) organizada por Carla Martin; A Arqueologia da Palavra e a Anatomia da Língua (2012), por Amosse Mucavela; CaboVerde – Prosa Literária – Pós-Independência (2017), por Érica Antunes Pereira, Fátima Bettencourt e Simone Caputo Gomes; Literatura e Lusofonia (2013), coordenado por Rui Lourido. Integrou mais de 10 júris de Prémios Literários, Artísticos e Culturais.
Enquanto artista plástico, já expôs em Cabo Verde – Centro Cultural Francês, 1998; Palácio da Cultura, 2002 e 2006; Câmara Municipal da Praia, 2006; na Áustria: Afro-Asiatishen Instituts Graz, 2003; em Viena: Institut fur Romanistik –Universitat Wien; 2001; AssociaçãoAmizadeÁustriaBrasil, 2004; em Cabo Verde: no Centro Cultural Francês, no Palácio da Cultura, na Praia, e no Convento de S. Francisco, na Cidade Velha, com X Posições – Sonatas de Sol, 2009 e em 2010 com X Posições, no Cachito.
Foi Curador das Grandes Exposições de Pintura: Cabo Verde & As Artes Plásticas e BCV – 35 Anos a Crescer com Cabo Verde, em saudação ao 35º Aniversário da Independência Nacional. Foi Curador da Exposição de Pintura No Feminino, em 2012, na Presidência da República, por ocasião do Dia da Mulher Cabo-verdiana (27 de Março).
De entre outras, é de se destacar a distinção feita pelo Governo de Cabo Verde, em2005, com o 1º grau da Medalha de Mérito, em reconhecimento pelo seu especial mérito demonstrado no domínio da cultura e a condecoração do Presidente da República, em 2010, coma 1ª classe da Medalha do Vulcão, em reconhecimento pela sua importante contribuição para a promoção e o desenvolvimento da Cultura Nacional.