MAIS UM COMBATE
Hoje é mais um combate.
Aqui é mais um combate.
Um combate de vida,
Um combate de morte.
Um combate
Em que o Ser existirá,
Não poderá perecer.
Mas cuidem-se os deuses,
Porque nada (será) ficará
Como dantes.
Esta dor, este perigo
Esta perda de sentido,
Não são nem serão
Mero acaso,
Nem mais um caso.
É um combate,
Um verdadeiro combate
Em que a vida e a morte terão
Tudo e eu de cada lado.
Eu e os deuses
Num frente a frente
De verdade,
Em que rasgo o meu peito
Onde minha alma,
Este Sujeito, este Ser,
Habitam.
“E quando o perigo cresce,
Ao ponto de a morte se tornar esperança…”
Alguém disse: “Desespero é desesperar
De nem sequer poder morrer…”*
Pois eu digo: não é verdade.
Morte não é esperança,
Desespero não é vontade de morrer.
Desespero é não saber.
O único e supremo desespero da humanidade
Existiu num verdadeiro momento
Com um único som,
Com um único lamento:
“Pai, porque me abandonaste?”
E aqui, neste momento,
Em que o mundo pesa mais que chumbo,
Que um pequeno vento é um tormento,
Ai de mim.
— Pai, porque me abandonaste?
Seguramente não foi por acaso,
Seguramente não foi por ser fácil,
Seguramente sabias, que era inevitável perguntar:
— Pai, porque me abandonaste?
E agora, aqui,
Onde o espaço e o tempo se unem,
Numa colisão do universo,
Onde o Ser, este Sujeito,
Num ato de humildade
Se queda perante o Pai
E num último suspiro
Diz: “Ai”, sinto a dor, sinto angústia,
Desespero…
Mas morrer? Que seja,
Mas que ao terceiro dia
Me possa sentar à Tua direita.
Que o Ser ressurja, num suspiro,
Num ato de consciência de “Si -Mesmo”,
Com um pesado “Bordão” na mão direita,
Erguendo-o vigorosamente
E batendo na terra, no chão…
Faça ecoar um som forte,
Decisivo, perene,
Que os deuses pasmados
Saberão que aqui ao leme
Existe um Ser um “Sujeito”,
Que é um caminho.
E a angústia, o desespero,
Serão somente pedras desse caminho.
E agora eu digo: — Pai, porque me abandonaste?
Só quando sentir na face
A gota da tua lágrima, derramada sobre mim,
Saberei que ao terceiro dia
Estarei sentado à Tua direita.