Portentosos, universais, necessários, bem ao jeito de Alberto Caeiro e de Sophia de Mello Breyner, os Sonetos sem Chave e outras Mágoas, de Virgílio Carneiro, vão abalar os Homens que andam correndo na rua, apressados, sem que ninguém os persiga;
Portentosos, universais, necessários, bem ao jeito de Alberto Caeiro e de Sophia de Mello Breyner, os Sonetos sem Chave e outras Mágoas, de Virgílio Carneiro, vão abalar os Homens que andam correndo na rua, apressados, sem que ninguém os persiga; o decrépito pintor cuja paleta está gasta, partida, e cuja mão é já trémula; o povo velho, trabalhador, mas que mal pensa; os loucos que ainda gritam que “o rei vai nu”; os pavões descarados e ridículos que infectam uma pátria moribunda. Estes sonetos sem chave insurgem-se contra o desconcerto do mundo, falam da falta de humanismo nas relações entre as pessoas, apontam o dedo à imbecilidade e à hipocrisia do mundo, ridicularizam a falta de ética e de dignidade empregues na causa pública. A voz do poeta transforma-se na voz do povo, e as outras mágoas vão, lentamente, dando lugar a um cântico de esperança, vencidas a raiva e a indignação. E todos nós sabemos que “nada disto acontece por acaso!” (poema Ir ao Campo, de Virgílio Carneiro).
